associação comercial e industrial de arcos de valdevez e ponte da barca

Sustentabilidade, o que é e o que não é

in Notícias Gerais
Criado em 25 junho 2012

Leonardo Boff não precisa de apresentações, é um nome cimeiro do pensamento religioso e da reflexão sobre as questões ecológicas e a ecoteologia da libertação. O seu livro “Sustentabilidade, O que é, o que não é” (Editora Vozes, 2012) é um admirável breviário das principais questões que hoje convergem tanto para o desenvolvimento sustentável como para a clarificação do significado de sustentabilidade.


O pensador avisa que escreveu este ensaio para demarcar aquilo que é e não é sustentabilidade, denunciando que se tornou cada vez mais frequente o greenwash, a mistificação para eludir o consumidor que anda à procura de produtos menos agressivos e que compra gato por lebre. Sobre a urgência da sustentabilidade, recorda-nos a Carta da Terra, um documento subscrito por personalidades como Michail Gorbachev, Maurice Strong e Mercedes Sosa, entre outros, que abre com uma frase grave: “Estamos diante do momento crítico da história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro (…) A escolha é nossa e deve ser: ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e cuidar uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a destruição da diversidade da vida”.

A atual ordem socio-ecológica é manifestamente insustentável e dá o exemplo da questão financeira denunciando que cresce a percentagem dos mais ricos que consomem em volume escandaloso as riquezas da Terra: “As três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores a toda a riqueza dos 48 países mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza que 2,8 biliões de pessoas, o que equivale a 45 % da humanidade; atualmente 1 % dos norte-americanos ganha o correspondente ao rendimento de 99 % da população”. Mas a insustentabilidade social também é um escândalo como a progressiva redução da biodiversidade. De modo sintético, fala-nos igualmente do aquecimento global. Desenvolve as origens do conceito da sustentabilidade e detém-se sobre a Carta do Rio de Janeiro aprovada em Julho de 1992.


Leonardo Boff argumenta com provas irrefutáveis na mão, mesmo quando procede à análise aos modelos atuais da sustentabilidade e põem a nu as fraquezas de modelos como o da economia verde ou do ecodesenvolvimento ou da bioeconomia, assim concluindo: “Não é correto, não é justo nem ético que ao buscarmos os meios para a nossa subsistência, dilapidemos a natureza, destruamos biomas, envenenemos os solos, contaminemos as águas, poluamos os ares e destruamos o subtil equilíbrio do sistema Terra e do sistema Vida. Não é tolerável eticamente que sociedades particulares vivam à custa de outras sociedades ou de outras regiões, nem que a sociedade humana atual viva subtraindo das futuras gerações os meios necessários para poderem viver decentemente”. E daqui encaminha a sua reflexão para as causas da insustentabilidade da atual ordem ecológico-social, desmontando as ilusões do antropocentrismo, as limitações da cosmovisão moderna e das fragilidades do individualismo insensível à finitude dos recursos. Parte para considerações sobre um paradigma novo e uma nova cosmologia. E dá uma definição de paradigma: conjunto articulado de visões da realidade, de valores, de tradições de hábitos consagrados, de ideias, de sonhos, de modos de produção e de consumo, de saberes, de ciências, de expressões culturais e estéticas e de caminhos éticos-espirituais.

A nova cosmologia é profundamente ecológica. E dá-nos uma definição de sustentabilidade, de acordo com os novos princípios que ele propõe: “É toda a ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda atender as necessidades da geração presente e das futuras, de tal forma que o capital natural seja mantido e enriquecido na sua capacidade de regeneração, reprodução e coevolução”.

A democracia socio-ecológica será a base da sustentabilidade e avança com uma nova definição: “Uma sociedade é sustentável quando se organiza e se comporta de tal forma que ela, através das gerações, consegue garantir a vida dos cidadãos e dos ecossistemas nos quais está inserida, junto com a comunidade de vida”. E recorda o peso da autonomia, da participação. Detalha seguidamente um conjunto de pressupostos para a sustentabilidade e tece considerações sobre os indicadores de um desenvolvimento sustentável. Mais adiante, equaciona sustentabilidade e educação, sustentabilidade e indivíduo para concluir com estas palavras: “Temos que voltar a fazer o bem, o justo e o certo, e não apenas a não fazer o mal. Por isso se justifica a intrigante pergunta: Que tipo de sustentabilidade os países industrializados e ricos podem oferecer para a vida e para a Terra se não conseguem sequer garantir a sustentabilidade daquilo que constitui o mais importante para eles, que são os mercados e o valor das moedas?”


E deixa um sinal de esperança: “Por natureza somos seres de cooperação e solidariedade. Em momentos de grande risco e de tragédias coletivas anulam-se as diferenças de classe social e todos são convocados para a cooperação e para a solidariedade. Então entreajudamo-nos para nos salvar. Esse momento aproxima-se, pois a Terra está dando sinais inequívocos de stresse e de limites das suas forças”.
Em anexo, o autor junta a Carta da Terra e um conjunto de dicas sobre sustentabilidade ecológica.
Enfim, um ensaio de Leonardo Boff carregado de intenção e de elevação. Leitura obrigatória para quem se questiona sobre os desafios da sustentabilidade.

 

 

Fonte: www.consumidor.pt