Sabe como se calcula o preço dos combustíveis?
Conheça o peso do preço de referência, bem como das margens de comercialização.
Como se calcula o preço dos combustíveis com que abastecemos os nossos carros é para quase todos uma incógnita, já que se trata de algo complexo. Os preços têm vindo a subir, mas a causa apontada vai variando: desde a subida do preço do barril, à guerra na Ucrânia, carga fiscal ou margens das petrolíferas.
Como se calcula então o preço final dos combustíveis? Se a gasolina e o gasóleo provêm do petróleo e vimos nas notícias que a cotação do barril baixa, porque sobe o preço dos combustíveis? Nós explicamos.
Como se calcula o preço dos combustíveis?
O preço dos combustíveis depende de duas componentes:
- Preço de referência
- Margens de comercialização
A formação do preço de referência o as margens das gasolineiras, têm assim uma relação direta com o preço da gasolina e gasóleo com que abastece o seu carro. Mas de que depende cada uma dessas parcelas?
Em Portugal, quem fixa o preço de referência dos combustíveis?
A Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE) calcula e publica, todos os dias, o preço de referência para os combustíveis e também para o gás propano e butano.
Esta entidade, responsável pela gestão das reservas estratégicas nacionais de petróleo e produtos petrolíferos disponibiliza, no seu site, não só os valores de referência diários, como a sua evolução e a sua decomposição.
Note, ao valor de referência publicado acrescem as margens de comercialização, fixando-se assim o valor de venda ao público. O valor de referência inclui as seguintes componentes:
- Cotação internacional
- Cotação do Dólar face ao Euro
- Frete
- Descargas e armazenagem
- Reservas estratégicas
- Incorporação de biocombustíveis
- Imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP)
- Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)
Para o gás propano e butano acresce ainda o custo de enchimento das garrafas.
Importa ainda realçar que apesar do preço variar diariamente é fixado semanalmente para o consumidor final, isto para que a mudança na bomba de abastecimento não seja diária.
Cotação Internacional
A primeira componente da formação do preço de referência é o preço da matéria-prima. Ou seja, neste caso o petróleo.
Nos mercados europeus o preço de referência é preço do barril do petróleo Brent, e para alguns países a relação é direta. Em Portugal, considera-se o preço do combustível à saída da refinaria, ou seja, o combustível já refinado.
Tenha ainda em conta que o valor da cotação do combustível refinado varia em função da procura e da oferta. Por isso, apesar da matéria-prima ser a mesma, a variação do preço à saída de refinaria não é igual para a gasolina e gasóleo. Mas poderíamos dizer de uma forma simplista que depende da altura do ano. Sendo a maioria dos carros a gasolina em altura de férias é de esperar que a procura aumente e, por isso, o seu preço suba mais do que o gasóleo. O inverso acontece nos meses de inverno, quando as necessidades de aquecimento aumentam e com isso a procura do gasóleo.
Cotação do dólar face ao euro
Outro ponto a reter é que as cotações são fixadas em dólares. Desta forma, se o dólar desvalorizar face ao euro, vai gastar mais para comprar a mesma quantidade de combustível, o que terá consequências no preço em euros da cotação do petróleo refinado. Logo, no cálculo do preço dos combustíveis.
Frete
O frete não é mais do que o custo do transporte do petróleo refinado até Portugal. Segundo dados da ENSE, a cotação e o frete representam 50,66% do preço de referência da gasolina e 53,75% do preço de referência do gasóleo.
Descargas e armazenagem
Existem ainda mais custos a considerar. Para calcular o preço dos combustíveis tem de considerar também os custos de receção e descarga do produto, bem como os custos de armazenagem.
Reservas estratégicas
Portugal tem reservas energéticas constituídas e controladas diretamente pela ENSE. A sua gestão e armazenamento tem também custos que são incorporados no preço de referência.
Neste sentido, o custo de descargas, armazenagem e reservas estratégias representam 0,32% do preço de referência da gasolina e 0,36% do preço de referência do gasóleo.
Incorporação de biocombustíveis
Tendo como objetivo a redução das emissões de gases com efeito de estufa, a diversificação da origem da energia primária e a redução da dependência energética externa em relação aos produtos petrolíferos, a União Europeia impôs que fossem incorporados biocombustíveis (de origem biológica) nos combustíveis vendidos ao público (Decreto-Lei n.º 117/2010).
Para este ano, a taxa de incorporação de biocombustíveis é de 11%, sendo que o seu peso no cálculo do preço de referência é de 4,93% para a gasolina e de 6,71% para o gasóleo.
Imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP)
Este é um dos impostos que incidem sobre o preço dos combustíveis. Este imposto incorpora dois valores:
- Taxa de contribuição de serviço rodoviário, que incide sobre a gasolina, o gasóleo rodoviário e o GPL;
- Taxa de carbono que incide sobre as emissões de CO2 a que estão sujeitos alguns produtos petrolíferos e energéticos.
Este imposto é fixado anualmente pelo Governo. Mas, em 2022, atendendo a que o aumento dos combustíveis tem tido um impacto significativo nos orçamentos familiares e nos custos das empresas, o Governo decidiu uma redução temporária deste imposto. Como o aumento dos preços dos combustíveis se traduz num aumento do IVA pago pelo consumidor, para compensar esse valor o Executivo aprovou a redução extraordinária do ISP de 1 cêntimo por litro de gasóleo e 2 cêntimos por litro de gasolina. Esta redução deverá manter-se até 30 de junho.
Adicionalmente, enquanto aguarda autorização de Bruxelas para descer o IVA sobre os combustíveis para 13%, o Governo avançou com uma redução do ISP equivalente a esse valor.
Ainda assim o ISP contribui em 0,479€ para o preço de referência da gasolina entre 15 e 29 de maio (preço total de 1,887€) e 0,339€ para o do gasóleo (peço total de 1,654€), representando 25,38% e 20,50% do valor total, respetivamente.
Imposto sobre o valor acrescentado (IVA)
Este imposto incide sobre todas as outras parcelas que compõe o preço de referência incluindo o ISP. É atualmente de 23% (Governo aguarda autorização para reduzir para 13%.
Margens de comercialização
Para calcular o preço do combustível, ao preço de referência, tem ainda de acrescer a margem de comercialização de quem vende o combustível. Essa margem inclui:
- Custo da distribuição dos combustíveis, como seja o transporte e custos dos operadores;
- Lucro do distribuidor.
Sobre esta margem acresce ainda o IVA, aumentado assim a receita do Estado.
Através dos dados divulgados pela ENSE é possível verificar a margem de comercialização média para cada dia e concluir que não é fixa, podendo atingir 15%.
Margens de comercialização dependem da empresa
De facto, as margens de comercialização dependem de cada empresa embora pareça existir uma uniformização entre as principais marcas. O que explica porque é que nas bombas low cost o preço dos combustíveis é inferior.
Estratégias para poupar
Assim, se tem mesmo de usar o carro todas as estratégias de poupança são boas para reduzir o valor que paga na bomba, nomeadamente:
- Esteja atento ao anúncio da variação dos preços dos combustíveis. Se for subir abasteça antes que ocorra. Mas se pelo contrário for descer, espere pela descida para abastecer;
- Abasteça nos postos mais baratos;
- Use cartões de desconto;
- Evite usar o ar condicionado;
- Atenção ao estado do carro;
- Não ande com o carro muito pesado, tire tudo o que não precisa do porta bagagens.
Fonte: doutorfinancas.pt, 20/6/2022