Nos últimos meses temos assistido a um aumento expressivo do peso dos depósitos à ordem no total de depósitos.
Isto significa que as famílias portuguesas têm optado por queimar dinheiro a obter retornos. Neste artigo abordamos a opção por ter dinheiro parado na conta à ordem, os seus perigos e as alternativas ao seu dispor.
Quer mesmo queimar dinheiro?
Ter dinheiro parado na conta à ordem é o mesmo que dizer que está na disposição de queimar dinheiro. É verdade. Dinheiro parado à ordem significa:
- Maior tentação para gastar o dinheiro, uma vez que o dinheiro fica disponível para ser gasto. O confinamento reduziu as tentações e oportunidades para gastar o dinheiro, mas o desconfinamento vai acabar com esse travão;
- Perda de poder de compra pelo efeito da inflação. Na prática, os mesmos €100 vão permitir-lhe comprar menos coisas no futuro;
- Está a dar ao banco a possibilidade de utilizar o seu dinheiro sem qualquer custo. Faz sentido? É justo? É inteligente?
Porque tem aumentado o peso do dinheiro à ordem?
Temos alertado várias vezes para os efeitos da queda das taxas de juro. A taxa de juro é conhecida por ter impacto na poupança e no crédito. Uma queda das taxas incentiva o crédito (e beneficia quem contratou crédito a taxa variável no passado) e penaliza quem tem poupanças. Por outro lado, a subida das taxas de juro incentiva a poupança e penaliza o crédito.
Nos últimos anos as taxas de poupança das famílias têm caído consistentemente. Por um lado, rendemo-nos ao consumo, mas por outro não sentimos tanto incentivo à poupança. Ou desviamos essa poupança para outras aplicações mais arriscadas, como sendo os mercados financeiros e o mercado imobiliário. Infelizmente, estamos hoje mais permeáveis a problemas financeiros pois não temos poupanças, facto que tem justificado em parte a corrida de muitas famílias aos pedidos de apoio.
Quais as alternativas à aplicação do seu dinheiro?
No ambiente atual as alternativas que existem são poucas e têm um retorno que pode parecer muito reduzido. Sendo certo que é melhor ter dinheiro poupado (mesmo que a render zero) do que não ter poupança nenhuma, é também certo que existem alternativas ao nosso dispor. Por exemplo:
- Produtos de aforro do Estado Português, sejam certificados de aforro ou certificados do tesouro. Nestas aplicações o risco que corre é do incumprimento do Estado Português (muito pouco provável). Pode ter de imobilizar o dinheiro durante algum tempo, mas a relação risco/retorno não deixa de ser interessante face aos depósitos à ordem;
- Depósitos a prazo em algumas instituições financeiras. Não falamos de depósitos promocionais pois acreditamos que não passam disso mesmo. Falamos de depósitos a prazo em bancos com cariz mais online e que permitem taxas anuais próximas de 1%.
- Seguros de capitalização, aplicações financeiras contratadas junto de companhias de seguros, pensadas para prazos mais alargados e com taxas de juro também perto de 1%. Tenha em mente eventuais comissões de subscrição e/ou de resgate.
- PPR, aplicações que não precisam de ser utilizadas apenas para a reforma. É possível contratar aplicações com capital e taxa de juro garantida, sendo que algumas destas aplicações conferem ainda uma participação de resultados que é sempre positiva e que acresce ao retorno garantido. Com estes produtos é possível ter retornos superiores a 1% em alguns casos.
Nunca se esqueça…
Hoje como no passado é fundamental que tenhamos sempre em mente que existe uma relação direta entre o risco que corremos e o retorno que temos. Não deveremos querer ter muito retorno se não estamos dispostos a assumir riscos. E por que não destinar uma parte das suas poupanças a aplicações com algum risco, na expetativa de vir obter retornos superiores?
Fonte: jornaleconomico.sapo.pt, 19/6/2020