“o jornal não é meu é dos leitores”
O Notícias da Barca, jornal local com sede na vila de Ponte da Barca, nasceu a 24 de Agosto de 1975. Atualmente, chega aos quatro cantos do mundo e no distrito de Viana do Castelo ocupa a quarta posição dos jornais regionais mais lidos. Gualter Bacelar, seu diretor há 26 anos, orgulha-se desse facto mas afirma que não faz o jornal “para estar na ribalta mas sim para as pessoas”. Afirma-se como “cidadão do mundo”, cresceu no meio das prensas do jornal do seu avô, onde brincava com as letras, e ao longo de todos estes anos ainda nenhum dissabor o fez arrepender do caminho que escolheu.
Como nasceu o “Notícias da Barca”?
É um projeto familiar, eu e a minha família estávamos ligados às artes gráficas e aos jornais, sentíamos nas veias o pulsar do jornalismo e achámos, na altura, que era necessário um jornal para o concelho. Naquela época tinha acontecido o 25 de Abril, tudo fervia ainda, seria então um órgão de informação, era mais uma escolha. Começou a publicar-se quinzenalmente aos domingos, durante vinte e um anos e em 1995 passou a ser semanal, fruto das novas tecnologias, periodicidade que mantém até ao momento.
Sendo de outra localidade como vem parar a Ponte da Barca?
O meu pai veio colaborar com o Notícias dos Arcos e nos viemos com ele, foi lá que cresci, e mais tarde, em 1975, viemos para Ponte da Barca e a foi nesse mesmo ano que fundamos o jornal.
Como apresenta, em traços gerais, o “Notícias da Barca”?
É um jornal voltado mais para a comunidade barquense. Ponte da Barca era e é um concelho de emigração e o jornal nasceu também para informar quem estava lá fora, embora a vila já tivesse na altura um jornal, o nosso não nasceu para concorrer com o que já existia.
O jornal é exclusivamente local ou abrange também a região?
É um órgão de comunicação regional mas eu digo sempre que é um jornal local, pois está voltado mais para o concelho e não propriamente para o distrito.
Qual a evolução do projeto ao longo destes anos?
Foi um projeto bem conseguido, claro que podia estar melhor mas há muitas dificuldades pelas quais a imprensa regional passa e o pulsar dos jornais tem a ver com a publicidade e a indústria. Se estes dois fatores forem escassos ressente-se nos jornais. Tivemos ao longo de todos estes anos algumas dificuldades e ainda hoje sentimos algumas mas tudo se ultrapassa. O facto de o jornal ter um público muito bem definido e fidelizado permite controlar melhor todo o processo.
Em relação a apoios, como se mantém um jornal local como este?
Os apoios são poucos. O jornal caminha por ele próprio, o assinante vai pagando a sua assinatura e retira-se algum lucro da publicidade. Em relação a apoios estatais, o único que ainda existe é a ajuda no porte pago, que começou por ser de 100% e neste momento está nos 40% e a tendência é acabar.
Sente que o jornal é um meio importante através do qual quem está fora continua a saber o que se passa cá dentro? Que feedback tem a esse respeito?
Sim, dizem aquilo que pensam, as pessoas têm uma voz ativa e sinto que gostam de ver as notícias da sua terra.
Considera-se um homem de causas?
Sim, considero e já tive alguns casos jurídicos por defender causas. Às vezes esmorecemos, é certo, mas temos sempre de ir em frente.
Arrepende-se de ter publicado algum artigo?
Não me arrependo de ter publicado nada porque era sempre em busca de melhores condições, era para dar voz à população, para fazer justiça mas a maior parte dos artigos que suscitaram processos nem eram escritos por mim mas sim por colaboradores do jornal. Nos anos 90 o jornal teve um ano em que houve cerca de quatro ou cinco processos o que para um jornal da terra é muito o que demonstra que tinha alguma intervenção.
Como vê o jornal no futuro?
Quando são projetos que dizem alguma coisa às pessoas acho que tendem a durar, há casos de jornais centenários, espero que o Notícias da Barca chegue a ser um desses jornais. Nos próximos anos acho que ainda temos pernas para andar mas o futuro o dirá.
Há alguma mensagem que queira deixar aos seus leitores?
Que o continuem a ler, a divulgar e a acarinhar, como tem feito até aqui porque eles são fundamentais, e é para eles que eu trabalho. O jornal não é meu é dos leitores.
Entrevista realizada em agosto de 2009